sábado, 26 de fevereiro de 2011

Uma fina poeira caía do ar,
embaixo dela um menininho arremessando para cima a areia encontrada a frente do portão.
O gesto se repetia, e ele alheio ao mundo em volta, parecia em outro plano.
Era só areia que subia e caía...
mas para ele era qualquer outra coisa entre a neve e o pó de pirim-pimpim.
 Subitamente invade seu glorioso mundinho um pensamento adulto:
-Menino, o que você tá fazendo com essa areia?!!
-Brincando...
-Não tá vendo que tá sujando sua roupa, deixa de ser bobo menino, não sabe que custou caro e depois vai dar trabalho pra lavar!!!
O menino deixa seu pó mágico e é conduzido até um sofá, onde sua brincadeira  resume-se a um compassado balançar de pernas.Ali ele pensou:- Se o problema é a roupa, eu tiro ela e brinco sem ninguém brigar comigo.
E lá se foi de cuequinha para seu reino mágico.Ficou ali até que um adulto deu falta daquelas perninhas balançando no sofá da sala.
-Meninoo, o que é isso!!!!!!
Foi assim que ele retornou ao mundo real.
-Cadê sua roupa? Isso é maneira de uma criança ficar?Onde estão seus modos?
-Saia já daí, lave suas mãos e vista-se!
-Mas eu quero brincar...
-Não com essa roupa!
-Mas eu tiro ela então...
-Você só pode estar louco.
E lá se foram para a casa, o menino contrariado pela brincadeira perdida e o adulto pela roupa suja.
Chegam em casa, criança pro chuveiro e roupa para o tanque.
Em um descuido da funcionária o alvejante caí sobre a roupa do menino e lá se vão as cores da camisa e o xadrez da bermuda.O adulto enfurecido esbraveja a quem puder ouvir.
O menino assiste e reflete...
A roupa agora toda descorada seca.
O menino a recolhe, pega suas canetinhas e pinta as manchinhas desbotadas da camisa para que assim ela volte a ser importante para seu pai.
                                                                                         (Anna Rezende)